terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ensaio sobre o Anel viário Leste - entrada de Blumenau

Certa feita o amigo Vancler Souza me descreveu uma solução que me soou um tanto radical para resolver o problema do congestionamento na entrada leste da cidade, notoriamente as Av. Itajaí e República Argentina.

Todos aqueles que dirigem nas imediações sabem o transtorno que é tentar circular por estas ruas em horários de pico e com outros tantos milhares de veículos acrescentados ao trânsito a cada mês. É óbvio que o problema não vai embora sozinho. E o que a administração municipal providencia são agentes de trânsito para "domar" as feras ao volante.

A idéia que me apresentou é bastante simples, e por isso carrega o brilhantismo das grandes sacadas. Segundo ele o certo para aquela região da cidade seria transformar estas ruas em mão única, cada uma num único sentido!

Minha primeira reação foi de resignação: será? Mas pensando mais um pouquinho no assunto fica fácil entender por que.

Soa estranho? Confira o mapa montado com a ajuda do google então:

A via principal está pintada de roxo, com a seta indicando o sentido recomendado para aquele trexo.

Atualmente ambas as ruas estão funcionando em sentido duplo. Certos trexos estão com duas pistas, outros com três. A idéia acima procura garantir que existam ao menso 3 pistas livres de entroncamentos, cruzamentos e semáforos para atender a um grande fluxo de veículos todos os dias.

Alguns pontos importantes, que chamo de princípios da proposta:

Nada de cruzamentos
Um dos maiores problemas deste trecho são os cruzamento entre as vias, especialmente nos sinais. Filas intermináveis se formam e motoristas que colocam o automóvel inteiro sobre a pista para entrar na mão contrária (+de 50cm é multa pelo código de trânsito). Torna-se um suplício passar por ali.

Com a garantia de 2 pistas livres estas ruas tornariam-se praticamente avenidas e escoariam o trânsito com maior fluidez. As saídas para as ruas laterais seria natural, sem bloqueio da pista. Com todos os veículos seguindo na mesma direção a entrada ou saída de veículos nunca interrompe o fluxo.

Eliminação de semáforos e entrada livre à direita
Os semáforos são um bom instrumento de controle quando bem utilizados, mas são um problema quando estão próximos em ruas com fluxo intenso de veículos. Com a eliminação da mão contrária e eliminação dos cruzamentos o motorista precisa preocupar-se somente com o fluxo de veículos à sua esquerda. Isso normalmente tem como consequência positiva a redução do número de colisões e acidentes, pois fica mais fácil circular por ali.

A maioria dos semáforos ali instalados poderia ser simplesmente eliminados, pois perderiam sua função. Como o princípio básico é deixar o trânsito fluir, os semáforos tornam-se inimigos da idéia.

Todos os semáforos da República Argentina podem ser eliminados desde a ponte dos arcos até a entrada da ponte no centro. Com a inversão do fluxo sobre a ponte de ferro o sinal para entrada na república argentina também perde sua função. O mesmo vale para a entrada da Brasil, que precisaria ter o canteiro removido para que as 2 pistas chegassem livres na ponte.

O semáforo em frente à prefeitura também deveria ser eliminado, deixando a pista central livre para quem segue adiante e um redutor de velocidade para quem segue na pista da esquerda. Os veículos que vem da XV para entrar na Castelo Branco (beira rio) teriam entrada livre à esquerda com uma simples placa de pare. O fluxo não é tão intenso ali e o redutor na pista da esquerda sobre a Castelo faria o restante do trabalho.

A rua (sem nome?) de quem retorna à esquerda na Castelo para ir ao Shopping deveria ser bloqueada e o fluxo de veículos que entram à esquerda deveria fazer o contorno na prefeitura. Isso eliminaria 2 semáforos sobre a XV e facilitaria o fluxo no centro.

Entrada livre pelo corredor de ônibus (pista de aceleração)
O corredor de ônibus é uma medida acertada, mas pode ser aproveitado para dar vazão ao fluxo. A entrada pelas pontes do castelinho da Havan e também da ponte de ferro deveria ser feito sobre o corredor de ônibus, que deveria servir como pista de aceleração para quem está entrando na avenida. Acredito que 150m sejam mais que o suficiente para os veídulos entrarem no fluxo.

Proibição de estacionamento na via
Com excessão dos pontos aonde há recuo específico para estacionamento de veículos (como na área azul), o estacionamento ao longo da via deveria ser proibido por toda a extensão destas ruas. A preservação de ao menos 2 pistas para circulação de veículos é primordial para adequado funcionamento da idéia. Aonde há espaço, como na rua Itajaí, deveria ser implementado o recuo de estacionamento e também um calçadão e ciclovia!

As transversais por sua vez devem ser utilizadas para estacionamento. Nestas ruas o fluxo e a velocidade são baixas e manobrar o veículo ali não atrapalha mais ninguém.

Retorno pela pode dos arcos
A ponte dos arcos teria seu fluxo e papel modificado neste novo arranjo. Seu papel seria modificado para funcionar como ponto de recuo, para aqueles que querem passar para o outro lado do rio. A entrada seria pela pista da esquerda, assim como a saída. É provável que a saída precise ser feita em pista reservada, por conta do problema de visibilidade que a estrutura da ponte que fica à direita do motorista.

Mesmo assim, como nenhum veículo cruza a pista, não há interrupção completa do fluxo como acontece hoje.

Velocidade máxima de 60km/h em toda a extensão da via

Com a liberação de 2 pistas para circulação de veículos somadas a remoção dos semáforos a tendência dos motoristas ao encontrar a pista livre é acelerar (e chegar mais rápido ao próximo gargalo). Para evitar que isso ocorra toda a via deveria ter sua velocidade modificada para 60km/h com monitoramento efetivo por pardais em toda sua extensão.

O exemplo de Curitiba é bastante útil nesta hora. Com todos os veículos andando na mesma velocidade o fluxo é constante a média velocidade. Isso permite espaços para que outros veículos ingressem no fluxo e acelerem à velocidade dos demais autos rapidamente.

Mudanças DE BAIXO CUSTO e de EXECUÇÃO IMEDIATA

A parte mais milaborante desta mudança é que ela pode ser feita sem grandes obras civis, com custos altos.

Precisaria ser antecipada por uma campanha de divulgação abrangente e ter a sinalização preparada para que a inversão e interligação das ruas pudesse ser feita num final de semana, em conjunto do desligamento dos semáforos e remoção do canteiro no cruzamento da Brasil com a Rep. Argentina, mas isso é praticamente nada para uma mudança destas proporções.

As placas poderiam ser instaladas e deixadas cobertas durante a semana com alteração feita na noite entre 6a-f e Sábado, para que os motoristas tenham o final de semana para acostumar-se com a nova configuração.

As demais modificações como remoção de semáforos, demarcação de pistas, instalação de estacionamentos, etc, pode ser feitas ao longo dos meses seguintes, priorizando sempre o que tiver relação com a segurança dos pedestres e dos veículos.

Os contrapontos
É claro que a idéia não agradaria a todos, principalmente aqueles que precisariam vazer a volta no rio para chegar em algum ponto mais à esqueda (contrário ao fluxo da via). Mas estou certo de que os ganhos de tempo para a grande maioria da população compensaria este problema que afetaria uma parcela pequena que precisaria dar a volta.

Outro problema é a distância entre os pontos de retorno, especialmente no trecho entre o Sesi e a ponte dos arcos. O ideal seria a construção de uma nova ponte a meio caminho entre os retornos (o pontilhado no mapa), ou então deixar a R. São Bento fazer este papel.

Enfim, Blumenau precisa encontrar maneiras de melhorar seu trânsito. Algumas modificações recentes feitas no trânsito se mostraram equivocadas e via de regra transferiram o problema do fluxo para o próximo ponto de gargalo. O objetivo aqui é acabar com o máximo de gargalos possível para que, assim como a água, os veículos encontrem caminho livre para fluir e acabar com este lindo e caótico estacionamento a céu aberto que a cidade se torna todos os dias...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Blumenau. Uma cidade turística?


Com razoável frequencia ouço as pessoas tocarem no assunto da característica "turística" de Blumenau. Gosto de acreditar que isso é tão simplesmente a manifestação de um desejo, mais do que algo sério. Mas tenho receio de estar errado. Ao que tudo indica tem bastante gente levando isso muito a sério.

Não que isso seja ruim. Acho que é simplesmente uma preocupação minha pelo risco de vender um projeto inacabado.

O tipo de turista mais citado por todos é o "turista de negócios". Aquele individuo que veio trabalhar na cidade por alguns dias e que consome serviços e produtos na cidade.

Há alguns anos Blumenau tinha como carro chefe seu setor textil industrial, que puxavam a economia e trazia bom contingente de homens de negócio para a cidade. Isso permitiu que a maior feira do setor - texfair - fosse realizada na cidade e movimentasse todo o setor hoteleiro, restaurantes e comércio por muito tempo. Só que nada é pra sempre.

A crise do setor têxtil fez com que as indústrias locais encolhessem e o peso do setor diminuísse significativamente. Soma-se a isso a carência de leitos na rede hoteleira para atender a todos durante a feira (tinha gente que ficava em Joinville), além de outras cositas más.

O resultado natural é que as atenções se voltem para o turista clássico. Aquele que busca lazer e entretenimento fora de sua cidade natal.

Blumenau tem sim muita coisa boa para ser vista. Além do charme de uma cidade pequena, há muitos lugares interessantes para visitar, belas construções para ver, museus típicos, cerveja e comida local para provar, além de muito mais.

Sendo assim, já está tudo pronto, certo? Calma lá. Não é bem assim.

Antes de querer se meter a tender o turista ocasional, precisamos resolver alguns problemas fundamentais e básicos para não dificultar os planos de quem está tentando curtir seu merecido descanso com um pouco de lazer e entretenimento.

Posso começar pelo transporte púbico. Os corredores de ônibus são uma boa iniciativa, mas por que tratar o visitante como um "enxerto" ao sistema? Onibus em Blumenau é para o morador da cidade. Para são confeccionadas carteirinhas o que dá a ele o direito a passagens mais baratas que são "carregadas" como créditos no tal cartão.

E o vistante? Se não der a sorte de embarcar em um dos terminais, aonde vai poder falar alguém antes de embarcar no ônibus, vai acabar descobrindo por conta própria que o preço para "forasteiros" é mais alto... E como descobrir o itinerário e possiveis conexões? Com um pouco de paciência e uma mãozinha do Google pode-se montar o roteiro combinando informações daqui e dali.

Mas tudo bem. A maioria dos turistas vem de carro mesmo, não é verdade? Pode até ser, mas estes não estarão com maior sorte.

Você já tentou ajudar algum parente de outra cidade a circular em Blumenau sozinho? Experimente um dia. Mesmo que seja por telefone. É revelador!

Os bairros são extremamente mal sinalizados. As ruas idem (placas com nomes somente próximo das principais). As indicações são confusas e desconexas, sem falar do fato da maioria delas estar encima da entrada, quando já não dá mais pra mudar de direção sem afetar alguém. As referências são de coisas que nem estão mais lá (vide Gaitas Hering e Mafisa)! É de dar dó.

Não bastasse esses pequenos entraves na vida de quem está passeando pela cidade, faça-se a pergunta: aonde ir?

Não há um roteiro planejado com coisas para o turista visitar. A vila germânica é um ponto tradicional, mas as lojas de souverires estão fechadas a noite e aos domingos (quando todos passeiam). Os museus funcionam em horário comercial. Restaurantes? Felizmente o número de boas opções vem crescendo. Parques? Há somente 1 que merece esta denominação. Igrejas, artesanatos, cristais, monumentos, e por aí vai.

Tudo isso ainda está para ser "interligado" num plano que permita às pessoas passearem pelos diversos pontos característicos da cidade num roteiro que dure o dia inteiro.

A esse roteiro eu acrescentaria uma linha turismo, que percorreria desses tantos pontos em intervalos regulares e que funcione nos mesmos dias e horários em que as pessoas querem passear!

Por essas e outras que eu acho um pouco prematura a idéia de propagandear Blumenau como uma cidade "Turística". Pitoresca posso concordar, mas turística ainda não. Ainda vai rolar um tanto de água por baixo dessas pontes até chegarmos lá.

Mas uma coisa é certa: se bem explorado, há muito que ganhar com isso. Tanto os visitantes quanto a população se beneficiaria das mudanças. Todos saem ganhando nesse caso.

As Lógicas Ilógicas que nos rodeiam

Blumenau é uma cidade peculiar em vários aspectos. Um item que passa praticamente desapercebido é o fato de que a lógica da sinalização das ruas ser feita ao contrário! É sim. Ali as placas dizem "não faça" ao invés de simplesmente "faça".

O fenomeno se manifesta de forma mais perceptível no centro da cidade, aonde há placas em cada esquina.

Parece estraho? Basta observar a posição e o sinal indicado nas placas que indicam a direção das transversais das principais ruas do centro.

Via de regra estão instaladas do lado oposto da rua (o que não chega a ser um crime), mas o mais cômico é o que está indicado nela. TODAS indicam o que NÃO fazer! Ou seja, ao invés de dizer simplesmente "é para lá", dizem "não é para lá"! Doido, não?


Uma historinha que ouvi uma vez comparava brasileiros, americanos e alemães. O resumo é mais ou menos assim: nos EUA tudo o que não é explicitamente proibido é permitido. Na Alemanha, tudo o que não é permitido é proibido, enquanto no Brasil até o que é proibido é permitido!

Daí foi fácil atribuir à origem germânica da cidade a lógica do "proibido" e transplantá-la para a sinalização do trânsito.

Mas dando uma olhadinha com mais carinho, fica difícil de entender que coisas assim propaguem-se por tantas e tantas gerações...

É fato que algumas famílias tradicionais seguem tendo influência nas decisões que afetam toda a população. Mas essa influência, com o passar dos anos e a profissionalização da administração, com a entrada do pessoal técnico, deveria estar muito reduzida, o que atenuaria o grau em que a vida cotidiana é afetada por achismos.

Há soluções já experimentadas e com resultados conhecidos pelo mundo todo e bastaria trazer as melhores para cá e ponto final, certo? Não tão rápido.

Voltando alguns anos na história das leis que afetam a todos nós, aqueles que já cruzaram os 30 vão lembrar as mudanças drásticas que foram feitas no codigo e transito nacional. No antigo sistema o DETRAN centralizava todo o controle na mão do Estado, contando com pessoal próprio para tudo. No modelo atual, o dentran somente se preocupa da parte burocrática, terceirizando todo o restante através das autarquias municipais, centros de habilitação de condutores, centros de vistoria e toda a parafernalha que conhecemos.

No ambito municipal é atribuída a autarquia de transito - em Blumenau o SETERB - planejar, regular e controlar a malha viária e o fluxo de veículos e pedestres. E como uma autaraquia, contam com dinheiro do município para algumas coisas, mas não tudo. Acima de tudo precisam gerar recursos para o próprio funcionamento. E qual a principal fonte de sustentos destes nobres senhores? Multas, ora! Simples assim.

Entendeu a possivel origem nada germânica de um ponto bastante peculiar da cidade com belas construções bechamel de outros tempos?

Mas não se apresse em tirar conclusões outra vez. Se isso explicasse tudo, a sinalização de trânsito do restante do Brasil deveria ser igual a daqui, mas não é. A lei é nacional, mas o comportamento é local.

Cidades construídas "para as pessoas" primam por informar e auxiliar o cidadão, enquanto aquelas erguidas para "as instuições" se preocupam mais com os controles, tão necessários para manter as pessoas em ordem...